terça-feira, dezembro 30, 2008

Colegiado Buddhista Brasileiro - Comunicado

Querid@s amig@s

Abro agora este espaço para um comunicado do Colegiado Buddhista Brasileiro. É uma orientação muito importante para os simpatizantes e praticantes do budismo no Brasil acerca de alguns princípios que podem ajudar no reconhecimento das práticas mais saudáveis do Dharma no país. Como o próprio texto diz, não é um mecanismo normatizador e nem pretende sê-lo, mas se oferece como referência, embasada na experiência de professores reconhecidos de diversas tradições, para aqueles que estão na busca e se defrontam com as mais diferentes formas e situações sob a mesma denominação genérica de "budismo" - principalmente quando há alguma relação financeira associada.

Portanto, sintam-se livres para ler, refletir e adotar ou não as orientações aqui expressas e as quais endosso.

Clique no link abaixo para ter acesso ao comunicado:

Comunicado do CBB

Samuel Cavalcante

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Prática e prece

"Vocês ouviram o que foi dito: 'Ame seu próximo e odeie seu inimigo.' Eu, porém, lhes digo: amem seus inimigos, abençoem aqueles que os amaldiçoam, façam o bem àqueles que os odeiam e orem por aqueles que rancorosamente os usam e os perseguem. Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu: porque ele faz o sol nascer sobre os maus e os bons, e a chuva cair sobre os justos e os injustos." Muitas pessoas rezam a Deus porque querem que Ele satisfaça algumas de suas necessidades. Se elas querem fazer um piquenique, pedem a Deus que lhes dê um dia claro e ensolarado. Ao mesmo tempo, os agricultores poderão estar rezando para pedir chuva. Se o tempo ficar bom, as pessoas que querem fazer o piquenique dirão: "Deus está do nosso lado; Ele atendeu às nossas preces." Mas, se chove, os fazendeiros dirão que Deus ouviu as preces deles. É dessa maneira que costumamos rezar. Quando você reza apenas pelo seu piquenique, e não pelos fazendeiros que precisam de chuva, está fazendo o oposto do que Jesus ensinou. Jesus disse: "Amem seus inimigos, abençoem aqueles que os amaldiçoam." Se você examinar profundamente sua raiva, perceberá que o indivíduo que você chama de inimigo também está sofrendo. Tão logo você compreende esse fato, a capacidade de aceitar e ter compaixão por essa pessoa passa a estar presente. Jesus chamou essa atitude de "amar seu inimigo".


Quando você é capaz de amar seu inimigo, ele deixa de ser seu inimigo. A idéia de "inimigo" desaparece e é substituída pela noção de alguém que está sofrendo e precisa de compaixão. Fazer isso às vezes é mais fácil do que você poderia imaginar, mas é preciso praticar. Ler a Bíblia sem praticar não é muito proveitoso. No budismo, praticar os ensinamentos de Buda é a forma mais elevada de prece. O Buda disse: "Se alguém estiver numa margem e quiser ir para a outra, terá de usar um barco ou atravessar o rio a nado. Ele não pode simplesmente rezar: 'Oh, outra margem, por favor venha até aqui para que eu possa caminhar sobre você!''' Para um budista, rezar sem praticar não implica a verdadeira prece.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Vacuidade

Quando eu era uma criança, costumava brincar com um caleidoscópio. Eu pegava um tubo com alguns cacos de vidro, girava um pouco, e tinha muitas visões maravilhosas. Cada vez que fazia um pequeno movimento com meus dedos, uma imagem desaparecia e outra surgia. Eu não chorava de modo algum quando o primeiro espetáculo desaparecia porque eu sabia que nada havia se perdido. Uma outra bela imagem sempre se seguia. Se você for a onda e se tornar um com a água olhando para o mundo com os olhos da água, então você não sentirá medo de subir e descer, subir e descer... Mas, por favor, não se satisfaça com mera especulação ou apenas com o que estou dizendo. Você mesmo precisa entrar, provar, ser um com todas as coisas. Isto pode ser feito através da meditação, não apenas na sala de meditação, mas ao longo de sua vida diária. Enquanto você cozinha uma refeição, arruma a casa, enquanto sai para caminhar, você pode olhar para as coisas e tentar vê-las na natureza da vacuidade. Vacuidade é uma palavra otimista; não é pessimista, absolutamente. Quando Avalokita, em sua profunda meditação sobre a Perfeita Compreensão, foi capaz de ver a natureza da vacuidade, repentinamente ele sobrepujou todo o medo e dor. Eu tenho visto pessoas morrerem muito pacificamente, com um sorriso, porque elas vêem que nascimento e morte são apenas ondas na superfície do oceano, ou apenas o espetáculo no caleidoscópio.

Assim, você vê que há muitas lições que podemos aprender com a nuvem, a água, a onda, a folha e o caleidoscópio; e com tudo o mais que há no cosmos, também. Se você olhar cuidadosamente para qualquer coisa, profundo o suficiente, você descobrirá o mistério do interser e, assim que você tenha visto isso, nunca mais estará sujeito ao medo - medo do nascimento, ou da morte. Nascimento e morte são apenas idéias que temos em nossas mentes, e estas idéias não podem ser aplicadas à realidade. É exatamente o que ocorre com a idéia de “acima” e “abaixo”.

Nós estamos muito seguros de que quando apontamos com a mão para o alto é “acima”, e quando na direção oposta é “abaixo”. O céu é acima, o inferno é abaixo. Mas, as pessoas que, neste exato momento, estão sentadas do outro lado do planeta deverão discordar, porque a idéia de acima e abaixo não se aplica ao cosmos, exatamente como a idéia de nascimento e morte.

Então, por favor, continue a olhar para trás e você verá que você sempre esteve aqui. Vamos olhar juntos e penetrar na vida de uma folha, até nos tornarmos um com ela. Vamos penetrar e ser um com a nuvem, ou com a onda, até compreedermos a nossa própria natureza como água e ficarmos livres do nosso medo. Se olharmos bem profundamente, nós transcenderemos nascimento e morte.

Amanhã eu continuarei a existir. Mas você terá de estar muito atento para me ver. Eu serei uma flor, ou uma folha. Eu estarei nestas formas e direi “Alô!” para você. Se você estiver suficientemente atento, você vai me reconhecer; e você poderá me cumprimentar. Eu ficarei muito feliz.

domingo, dezembro 07, 2008

Eu Cheguei

"Eu cheguei" é a nossa prática em Plum Village. Quando você inspira, toma refúgio em sua inspiração, e diz "Eu cheguei". Quando você dá um passo, você toma refúgio no seu passo e diz "Eu cheguei". Isto não é uma declaração para si mesmo ou pra outra pessoa. "Eu cheguei" significa eu parei de correr. Eu cheguei no momento presente, por que somente o momento presente é vida. Quando eu inspiro e tomo refugio em minha inspiração, toco a vida profundamente. Quando dou um passo e tomo refúgio inteiramente no meu passo, também toco a vida profundamente e, desse modo, paro de correr. Parar de correr é uma prática muito importante. Corremos durante toda a nossa vida. Acreditamos que a paz, a felicidade e o sucesso estão presentes em algum lugar e em algum tempo. Não sabemos que tudo - paz, felicidade e estabilidade - deveriam ser procurados no aqui e agora. Este é o endereço da vida - a interseção do aqui e do agora.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Budismo Engajado

O termo “budismo engajado” foi criado para restaurar o verdadeiro significado do budismo. Budismo engajado é simplesmente o budismo aplicado em nosso dia-a-dia. Se não é engajado, não pode ser chamado budismo. As práticas budistas não devem ser feitas somente nos monastérios, centros de meditação e institutos budistas, mas em qualquer situação na qual nos encontremos. Budismo engajado significa atividades do dia-a-dia combinadas com a prática da plena consciência.

Existe uma real necessidade de levarmos o budismo para a sociedade, especialmente quando você se encontra em uma situação de guerra ou injustiça social. Durante a guerra do vietnã se tornou muito claro que deveríamos praticar o budismo engajado, para que a solidariedade e a compreensão pudessem se tornar parte da vida do povo. Quando sua vila é bombardeada e destruída e quando seus vizinhos se tornam refugiados, você não pode simplesmente continuar a praticar a meditação sentada na sala de meditação. Mesmo que o templo não tenha sido bombardeado e a sua sala de meditação esteja intacta, ainda assim você poderá ouvir os gritos das crianças feridase poderá ver a dor dos adultos que perderam suas casas. Como é que você pode continuar a se sentar lá de manhã cedo, à tarde e à noite? É por isso que você tem que encontrar um jeito de levar a sua prática para a vida cotidiana e sair para ajudar as outras pessoas. Você pode fazer tudo o que você puder para aliviar o sofrimento. Mesmo que você saiba que se abandonar a prática de sentar-se e caminhar com plena consciência, você não será capaz de retomá-la por um longo tempo.

É importante que ao mesmo tempo em que nos tornemos voluntários ou tomemos parte no ativismo ambiental, encontremos uma maneira de continuar nossa prática de respirar, caminhar e falar com plena consciência. Não nos deixemos cair na raiva ou no desespero ao refletir sobre o estado atual do mundo, ou quando confrontados com aqueles que se engajam no desperdício dos recursos naturais. Pelo contrário, podemos fazer de nossa vida um exemplo de vida simples. A escuta profunda e a fala amorosa podem nos ajudar a apoiar a transformação dos indivíduos e da sociedade e nutrir o despertar coletivo que irá salvar nosso planeta e nossa civilização.

Se quisermos ter sucesso na prática da fala amorosa, precisamos saber como lidar com nossas emoções quando elas nos chegam à superfície. Toda vez que a raiva, a frustração ou a tristeza sugirem, temos que ter a capacidade de lidar com elas. Isso não significa lutar com elas, suprimí-las ou expulsá-las. Nossa raiva e nosso desapontamento são parte de nós, não devemos fazer isso. Quando oprimimos a nós mesmos, cometemos um ato de violência contra nós mesmos. Se soubermos como retornar à respiração consciente, criaremos um ambiente de verdadeira presença e geraremos a energia do contato. Com essa energia reconheceremos e abraçaremos nossa tristeza, raiva ou desapontamento com bondade e amor.

Trabalho social e de ajuda realizados sem a prática da plena consciência não podem ser descritos como budismo engajado. Todos os que fazem esse trabalho correm o risco de se perder no desespero, na raiva ou na frustração. Se você estiver realmente praticando o budismo engajado, então você saberá preservar-se a si próprio como praticante, ao mesmo tempo em que faz coisas para ajudar as pessoas no mundo. Budismo verdadeiramente engajado é, antes de tudo, a prática da plena consciência em tudo o que fizermos.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Transformando Nosso Presente e Nosso Passado

Todos nós cometemos erros no passado. Mas esses erros podem ser apagados. A gente pode até pensar que pelo fato do passado já ter ocorrido, não podemos mais voltar e corrigir os nossos erros. Mas o passado criou o presente, por isso, ao praticarmos a plena consciência no presente, estaremos naturalmente em contato com ele. Ao transformarmos o presente, transformamos ao mesmo tempo o passado. Nossos ancestrais, pais, irmãos e irmãs estão intimamente ligados a nós – nosso sofrimento e felicidade estão intimamente ligados ao deles, assim como o sofrimento e a felicidade deles estão intimamente ligados ao nosso. Se pudermos transformar a nós mesmos, estaremos transformando-os também. Nossa própria emancipação, paz e alegria significam a emancipação, paz e alegria dos nossos pais e ancestrais. Centrarmo-nos no presente para transformá-lo é a única forma de trazer paz, alegria e emancipação para aqueles que amamos e curar as feridas que provocamos no passado.

segunda-feira, novembro 03, 2008

A Mente Desperta Tem Que Ser Engajada

Quando eu vivia no Vietnã, muitas das nossas aldeias foram bombardeadas. Em conjunto com meus irmãos e irmãs monásticos, tive que decidir o que fazer. Deveríamos continuar nossas práticas nos mosteiros ou deveríamos sair dos templos de meditação para ajudar as pessoas que sofriam com as bombas? Após uma reflexão cuidadosa, resolvemos fazer as duas coisas: sair para ajudar as pessoas e fazer isso com a plena consciência. Chamamos essa prática de budismo engajado. A plena consciência tem que ser engajada. Se existe a visão, tem que existir a ação. Do contrário, de que valeria a visão?

Devemos estar alertas para os verdadeiros problemas do mundo. Assim, com plena consciência, saberemos o que fazer e o que não fazer para ajudar. Se nos mantivermos cientes da nossa respiração e continuarmos a praticar o sorriso, mesmo em situações difíceis, muitas pessoas, animais e plantas irão se beneficiar da nossa forma de agir. Você massageia a Mãe Terra cada vez que o seu pé a toca? você costuma plantar sementes de alegria e paz? Eu tento fazer exatamente isso a cada passo, e sei que a Mãe Terra aprecia imensamente. A paz a cada passo. Vamos continuar nossa jornada?

domingo, outubro 12, 2008

Não fique aí fazendo alguma coisa. Sente-se!

Muitas vezes dizemos a nós mesmos, " Não fique aí sentado, faça alguma coisa!". Quando praticamos a plena consciência, porém , descobrimos que o contrário pode ainda ser mais valioso: "Não fique aí fazendo alguma coisa. Sente-se!". Precisamos aprender a parar de vez em quando a fim de ver com nitidez. A princípio, "parar" pode parecer uma "resistência à vida moderna", mas não se trata disso. "Parar" não é só uma reação; é um estilo de vida. A sobrevivência da humanidade depende de nossa cpacidade de desacelerar. Temos mais de 50.000 bombas atômicas e, mesmo assim, não conseguimos parar de fabricar mais. "Parar" não significa um basta ao que é negativo, mas também permitir que se realize uma cura positiva. É esse o propósito da nossa prática - não evitar a vida, mas experimentar e comprovar que a felicidade é possível agora e também no futuro.

terça-feira, setembro 09, 2008

Objeção de Consciência

Numa civilização em que a tecnologia é crucial para o sucesso, existe pouco espaço para a solidariedade*. Mas quando meditamos profundamente sobre a vida passamos a nos identificar até mesmo com as formigas e as lagartas. Poderemos fracassar como fazendeiros, porque , provavelmente, nos recusaremos a usar inseticidas para matar as pragas. E se não tivermos coragem de matar um animal, como poderemos apontar uma arma para outro ser humano? Se viermos a ser funcionários do Ministério da Defesa, poderemos encorajar as pessoas a serem objetoras de consciência. Se viermos a ser governadores, poderemos nos opôr à construção de usinas nucleares em nosso estado e, assim, sermos expulsos do sistema. Muitos de nós compartilham esse sentimento. Sentimo-nos constrangidos com a nossa sociedade e expressamos nossa oposição de múltiplas maneiras. (...) Esse tipo de compreensão não é resultado de nenhuma ideologia ou sistema de pensamento, mas fruto da experiência direta da realidade em seus múltiplos relacionamentos. Ele requer o abandono do pensamento habitual que fragmenta a realidade, realidade que na verdade é indissolúvel.

domingo, agosto 17, 2008

O Quinto Toque da Terra

O Quinto Toque da Terra

Retirado do livro de Thich Nhat Hanh "Ensinamentos Sobre o Amor"
da editora Sextante


Com compreensão e solidariedade, faço uma reverência para me reconciliar com todos os que me fizeram sofrer. Abro meu coração e envio minha energia de amor e compreensão a todos os que me causaram dor, aos que destruíram grande parte da minha vida e da vida das pessoas que amo. Agora sei que eles passaram por muito sofrimento, e seus corações estão sobrecarregados de mágoa, raiva e ódio. Compreendo que alguém que sofre tanto assim faz sofrer a todos os que estão ao seu redor. Podem ter sido infelizes e nunca terem tido a oportunidade de serem bem cuidados e amados. A vida e a sociedade lhes impuseram muitas privações, foram maltratados e sofreram abusos. Não reberam orientação para viver com plena consciência. Acumularam percepções errôneas sobre mim e sobre nós. Agiram mal conosco e com as pessoas que amamos. Oro para os ancestrais das minha família de sangue e da minha família espiritual e peço que enviem toda energia de amor e proteção para essas pessoas que nos fizeram sofrer, de modo que seu coração receba o néctar do amor e desabroche com uma flor. Oro para que elas consigam se transformar e sentir a alegria de viver, deixando de causar dor a si mesmas e a outras pessoas. Vejo como sofrem e não quero nutrir nenhum sentimento de ódio ou raiva em relação a elas. Não desejo que sofram. Envio-lhes minha energia de amor e compreensão e peço a todos os meus ancestrais que as ajudem.

quinta-feira, julho 10, 2008

Nota do Tradutor

(Este texto é do responsável pelo Blog e não do Thây)


Como alguns devem ter notado, mudei todas as ocorrências da palavra "Compaixão" por "Solidariedade", na nota abaixo faço a minha justificativa.

Nota do Tradutor


Já li diversas vezes em textos do Thây que a tradução de karuna por "compaixão" não era uma boa tradução. No livro "Ensinamentos Sobre o Amor" ele nos diz explicitamente:

"O segundo do aspecto do amor verdadeiro é karuna, a intenção e a capacidade de aliviar e transformar o sofrimento e abrandar as tristezas. Em geral, a tradução de karuna é compaixão, mas isso não está inteiramente correto. 'Compaixão' compõe-se de com (junto com) e paixão (sofrimento). Mas não precisamos sofrer para eliminar a dor de outra pessoa. Os médicos, por exemplo, podem aliviar a dor de seus pacientes sem que eles padeçam da mesma doença. Se sofrermos muito, poderemos ficar arrasados e incapazes de ajudar os outros".

Outros tradutores, os que são budistas pelo menos, também sentem o mesmo incômodo ao usar a palavra compaixão, principalmente devido ao fato de ela ser carregada de conotações cristãs tradicionais ligadas à piedade, etc. Além disso, a palavra compaixão carrega um sentido altamente dualista que fere a unidade budista original, isolando o sujeito (aquele que age com compaixão) e o objeto (aquele que interage na ação), fazendo-nos esquecer de que ambos intersão, segundo verbo cunhado por Thây (interbeing), que ambos são interdependentes.

Por outro lado, a palavra solidariedade se encaixa perfeitamente na definição budista tradicional de karuna. Solidariedade vem da palavra solidário que por sua vez vem da palavra latina solidu (sólido). É interessante notar que nunca vi ninguém se lembrar que a palavra solidariedade tem a mesma raiz de solidez – e me parece óbvio que a solidariedade só pode ser praticada se houver solidez. Uma palavra que se baseia em solidez e compartilha, inclusive, a mesma raiz, em minha opinião, só pode ser a palavra mais adequada para traduzir a palavra karuna. E com a vantagem de não ser trazer em si sentido religioso algum (sei que isso pode ser também uma desvantagem, para alguns).

Em todos os seus textos e palestras, Thây sempre enfatiza o fato de que para uma ação ser realmente “compassiva”, ou seja, ser impregnada por karuna, é preciso solidez e estabilidade – mesmo na curta citação acima isso é claro. Solidez é necessária para que ocorra a transformação do sofrimento, a libertação, a felicidade. Não podemos simplesmente nos lançar a ajudar os outros, temos que cultivar a estabilidade e a solidez em nós mesmos para não sermos arrasados pela dor e sofrimento dos outros, para sermos capazes de ajudá-los a transformar seu sofrimento tal como fizemos nós mesmos.

No texto Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, o filósofo André Comte-Sponville nos diz:

“... ser solidário é pertencer a um conjunto in solido, como se dizia em latim, isto é, “para o todo”. Assim devedores são ditos solidários, na linguagem jurídica, se cada um pode e deve responder pela totalidade da soma que tomou emprestada coletivamente. Isso tem suas relações com a solidez, de que a palavra provém: um corpo sólido é um corpo em que todas as partes se sustentam”.

Talvez essa não seja a melhor solução, talvez fosse melhor recorrer ao um neologismo. Mas acho que é melhor usar expressões consagradas pelo uso do que criar novas palavras que podem criar mais confusão e dar um ar demasiado intelectual aos textos que, essencialmente, têm finalidade prática e não especulativa.

Por favor, se você não concordar com a minha visão pessoal, basta substituir mentalmente a palavra solidariedade por compaixão de novo para entrar em contato com o sentido mais adequado à sua prática – pelo menos era isso que eu fazia (secretamente). Agora torno pública a minha interpretação.

quarta-feira, julho 09, 2008

Um gesto Solidário Pode Produzir Um Milagre

Um gesto, uma palavra ou pensamento solidário pode reduzir o sofrimento da outra pessoa e proporciona-lhe alegria. Uma palavra consegue dar conforto e confiança, eliminar dúvidas, ajudar alguém a evitar um erro, apaziguar um conflito ou abrir a porta da libertação. Um gesto pode salvar uma vida ou ajudar um indivíduo a aproveitar uma oportunidade rara. Um pensamento tem a capacidade de fazer o mesmo, pois os pensamentos sempre leva às palavras e às ações. Se trazemos a solidariedade no coração, todo pensamento, palavra ou gesto é capaz de produzir um milagre

terça-feira, junho 17, 2008

Mente Verdadeira e Mente Ilusória

"Mente verdadeira" e "mente ilusória" são dois aspectos da mente. Ambas emergem da mente. A mente ilusória é a mente esquecida e dispersa, a qual emerge do esquecimento. A base da mente verdadeira é a compreensão desperta, a qual emerge da plena consciência. A observação consciente desvela a luz que existe na mente verdadeira, de modo que a vida poderá ser revelada em sua realidade. Sob esta luz, confusão se torna compreensão, visões errôneas se tornam visões corretas, miragens se tornam realidade e a mente ilusória se torna mente verdadeira. Uma vez que a observação consciente nasça, ela penetra o objeto da observação, ilumina-o e, gradualmente, revela sua verdadeira natureza. A mente verdadeira emerge da mente ilusória. As coisas em sua verdadeira natureza e as ilusões são de uma mesma substância básica. É por isso que praticar é uma questão de transformar a mente ilusória e não buscar a mente verdadeira em algum outro lugar.

domingo, junho 08, 2008

Carta Aberta ao Governo Brasileiro

Carta Aberta do Colegiado Budista Brasileiro ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil

(Trecho)

Exmo. Sr. Embaixador Celso Amorim,
O Colegiado Buddhista Brasileiro, instituição sem fins lucrativos e representativa das múltiplas manifestações do budismo no Brasil, vem, por meio desta, resumir o resultado do Debate Público sobre a Questão Tibetana, realizado a seu pedido e por intermédio da Vereadora Aspásia Camargo (Partido Verde), no Plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no último dia 12 de maio de 2008. Nesta ocasião ficou clara e unânime a posição da comunidade budista brasileira a respeito da questão tibetana e transparente o constrangimento desta em relação à posição tímida e conivente do Itamaraty para com a incontestável violação dos Direitos Humanos ocorrida naquela nação, infringida pela ditadura chinesa.

Os membros do Colegiado Buddhista Brasileiro, infra-assinados, expressam nesta Carta Aberta sua decepção para com o atual Governo Brasileiro que, sendo formado por muitos indivíduos que sofreram as infrações de uma ditadura e que foram eleitos sob as bases de sua luta em prol de uma sociedade pluralista e tolerante, e por seu compromisso para com a democracia e o respeito aos direitos humanos, hoje se subordina a interesses comerciais internacionais e fecha os olhos para o triste genocídio étnico e cultural há mais de 50 anos imposto ao Tibet.
(...)

segunda-feira, maio 26, 2008

Retiro Para Jovens

Retiro Para Jovens
Encontram-se abertas as inscrições para o retiro anual de jovens, para jovens de 16 a 25 anos de idade em Son Ha (Plum Village, Templo do Sopé da Montanha), no período de 26 de junho a 05 de julho de 2008.
O valor para todo o retiro (tudo incluso) é de 120 euros.
o formulário de inscrição encontra-se aqui.

quarta-feira, maio 21, 2008

Enviando Energia Espiritual

Rezar e mandar energia espiritual para as pessoas doentes, como nós o fazemos no budismo, é muito importante para a cura delas. No budismo, temos muita fé na energia desse tipo de oração, e nós o chamamos de "enviar nossa energia espiritual". Nossa fé não é supersticiosa, porque sabemos que esse tipo de oração, este envio de energia espiritual basea-se em verdades bastante científicas. A verdade é que quando os membros da comunidade se sentam juntos e produzem a energia da reflexão consciente ou da plena consciência para mandar um apoio espiritual, é quase certo que esta energia irá até a pessoa amada. Também sabemos que a consciência pode ser formada e alimentada pela ignorância. Quanto mais ignorância houver, tanto mais causas teremos para uma saúde ruim. Nossa prática diária e a prática de nossos amigos e de nossa sociedade podem produzir clareza. Quando a clareza e a compreensão são produzidas, haverá amor e compaixão. Se houver mais compreensão, haverá mais amor na consciência coletiva, e melhora o estado de saúde não só da pessoa individualmente, mas também da comunidade como um todo.

quinta-feira, março 27, 2008

A Paz é Cada Passo

Não há necessidade para nós de lutar para chegar a um lugar. Sabemos que o nosso destino final é o cemitério. Por que ter pressa de chegar lá? Por que não marchar em direção à vida, que está no momento presente? Quando fazemos meditação caminhando, mesmo que por poucos dias, sofremos uma profunda transformação e aprendemos a apreciar a paz a cada momento da nossa vida. Sorriremos e incontáveis bodhisattvas, através de todo o cosmos, sorrirão para nós, pelo fato de nossa paz ser tão profunda. Tudo o que pensamos, sentimos e fazemos tem efeito sobre nossos antepassados e sobre todas as gerações futuras, repercutindo por todo o universo. Portanto o nosso sorriso ajuda a todos.(...)A paz é cada passo.

quinta-feira, março 20, 2008

Equanimidade

Equanimidade não significa indiferença. Com equanimidade vemos igualmente aqueles que amamos e aqueles que odiamos e oferecemos o melhor que tivermos para fazer ambos felizes. Aceitamos tanto flores quanto lixo, sem apego nem aversão. Tratamos ambos com respeito. Equanimidade significa deixar ir, não significa abandonar e, sim, soltar, deixar existir. O abandono causa sofrimento. Quando não nos apegamos, somos capazes de soltar.

quarta-feira, março 12, 2008

Grupo de Estudos e Práticas

Se você mora em Fortaleza, Ceará, e está interessado(a) em participar da criação de um grupo de estudos e práticas do Budismo segundo os ensinamentos do ven. Thich Nhat Hanh, por favor, entre em contato comigo (Samuel Cavalcante) através do e-mail samuelweb@gmail.com.

Escreva-me também se estiver somente interessado(a) em conhecer outros aspectos desta tradição budista em particular e seu enfoque de engajamento social.

Doação

Na verdadeira doação não há pensamento de doador ou daquele que recebe. Isto é chamado de "vazio da doação", quando não há percepção de separação entre que doa e quem recebe. Esta é a prática de Dana feita no espírito de Prajña, com a compreensão do interser. Você oferece ajuda tão naturalmente como respira. Você não se vê como doador e a outra pessoa como recipiente de sua generosidade, que agora é observada por você e lhe deve ser apropriadamente grata, atender aos seus pedidos etc. Você não doa para fazer da outra pessoa sua aliada. Quando você vê que alguém precisa de ajuda, você oferece e doa o que você tem, sem pensar em recompensa.

quinta-feira, março 06, 2008

Buda Está Aqui Mesmo

O Buda está presente aqui; não precisamos ir ao Pico do Abutre. Não nos iludimos com simples aparências externas. Para mim, Buda não é mera forma ou nome; Buda é uma realidade. Eu vivo com o Buda todos os dias. Quando estou comendo, sento-me com o Buda. Quando caminho, vou com o Buda. E quando estou dando um palestra de Dharma, também estou vivendo com o Buda.

Eu não trocaria esta essência do Buda pela chance de ver a forma externa dele. Não precisamos procurar às pressas uma agência de turismo, voar para a Índia e subir no Pico do Abutre para ver o Buda. Por mais atraentes que sejam os anúncios das agências, eles podem ser enganosos. Nós temos o Buda diretamente conosco aqui. Sempre que praticamos a meditação andando, podemos tomar a mão do Buda e caminhar com ele.

sábado, março 01, 2008

Parar de Correr

Na nossa vida diária, temos o o hábito de correr. Buscamos paz, sucesso, amor, Deus - estamos sempre correndo - e nossos passos são o meio para fugirmos do momento presente. Deus está disponível somente no momento presente. Dar um passo e tomar refúgio nele significa parar de correr. Para aqueles que estão acostumados a estar sempre correndo é uma revolução dar um passo e parar de correr. Damos um passo e, se soubermos como dar este passo, a paz e Deus estarão disponíveis no momento em que tocarmos a terra com nossos pés.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A Paz Sempre É Possível

A verdadeira paz sempre é possível. No entanto, requer força e prática, particularmente em tempos de grandes dificuldades. Para alguns, a paz e a não-violência são sinônimos de passividade e fraqueza. Na verdade, praticar a paz e a não-violência está longe de ser uma atitude passiva. Praticar a paz, fazer a paz viver dentro de nós, é cultivar ativamente a compreensão, o amor e a compaixão, mesmo em situações de confusão e conflito. Praticar a paz, especialmente em tempos de guerra, requer coragem.
Todos nós podemos praticar a não violência.