terça-feira, dezembro 30, 2008

Colegiado Buddhista Brasileiro - Comunicado

Querid@s amig@s

Abro agora este espaço para um comunicado do Colegiado Buddhista Brasileiro. É uma orientação muito importante para os simpatizantes e praticantes do budismo no Brasil acerca de alguns princípios que podem ajudar no reconhecimento das práticas mais saudáveis do Dharma no país. Como o próprio texto diz, não é um mecanismo normatizador e nem pretende sê-lo, mas se oferece como referência, embasada na experiência de professores reconhecidos de diversas tradições, para aqueles que estão na busca e se defrontam com as mais diferentes formas e situações sob a mesma denominação genérica de "budismo" - principalmente quando há alguma relação financeira associada.

Portanto, sintam-se livres para ler, refletir e adotar ou não as orientações aqui expressas e as quais endosso.

Clique no link abaixo para ter acesso ao comunicado:

Comunicado do CBB

Samuel Cavalcante

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Prática e prece

"Vocês ouviram o que foi dito: 'Ame seu próximo e odeie seu inimigo.' Eu, porém, lhes digo: amem seus inimigos, abençoem aqueles que os amaldiçoam, façam o bem àqueles que os odeiam e orem por aqueles que rancorosamente os usam e os perseguem. Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu: porque ele faz o sol nascer sobre os maus e os bons, e a chuva cair sobre os justos e os injustos." Muitas pessoas rezam a Deus porque querem que Ele satisfaça algumas de suas necessidades. Se elas querem fazer um piquenique, pedem a Deus que lhes dê um dia claro e ensolarado. Ao mesmo tempo, os agricultores poderão estar rezando para pedir chuva. Se o tempo ficar bom, as pessoas que querem fazer o piquenique dirão: "Deus está do nosso lado; Ele atendeu às nossas preces." Mas, se chove, os fazendeiros dirão que Deus ouviu as preces deles. É dessa maneira que costumamos rezar. Quando você reza apenas pelo seu piquenique, e não pelos fazendeiros que precisam de chuva, está fazendo o oposto do que Jesus ensinou. Jesus disse: "Amem seus inimigos, abençoem aqueles que os amaldiçoam." Se você examinar profundamente sua raiva, perceberá que o indivíduo que você chama de inimigo também está sofrendo. Tão logo você compreende esse fato, a capacidade de aceitar e ter compaixão por essa pessoa passa a estar presente. Jesus chamou essa atitude de "amar seu inimigo".


Quando você é capaz de amar seu inimigo, ele deixa de ser seu inimigo. A idéia de "inimigo" desaparece e é substituída pela noção de alguém que está sofrendo e precisa de compaixão. Fazer isso às vezes é mais fácil do que você poderia imaginar, mas é preciso praticar. Ler a Bíblia sem praticar não é muito proveitoso. No budismo, praticar os ensinamentos de Buda é a forma mais elevada de prece. O Buda disse: "Se alguém estiver numa margem e quiser ir para a outra, terá de usar um barco ou atravessar o rio a nado. Ele não pode simplesmente rezar: 'Oh, outra margem, por favor venha até aqui para que eu possa caminhar sobre você!''' Para um budista, rezar sem praticar não implica a verdadeira prece.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Vacuidade

Quando eu era uma criança, costumava brincar com um caleidoscópio. Eu pegava um tubo com alguns cacos de vidro, girava um pouco, e tinha muitas visões maravilhosas. Cada vez que fazia um pequeno movimento com meus dedos, uma imagem desaparecia e outra surgia. Eu não chorava de modo algum quando o primeiro espetáculo desaparecia porque eu sabia que nada havia se perdido. Uma outra bela imagem sempre se seguia. Se você for a onda e se tornar um com a água olhando para o mundo com os olhos da água, então você não sentirá medo de subir e descer, subir e descer... Mas, por favor, não se satisfaça com mera especulação ou apenas com o que estou dizendo. Você mesmo precisa entrar, provar, ser um com todas as coisas. Isto pode ser feito através da meditação, não apenas na sala de meditação, mas ao longo de sua vida diária. Enquanto você cozinha uma refeição, arruma a casa, enquanto sai para caminhar, você pode olhar para as coisas e tentar vê-las na natureza da vacuidade. Vacuidade é uma palavra otimista; não é pessimista, absolutamente. Quando Avalokita, em sua profunda meditação sobre a Perfeita Compreensão, foi capaz de ver a natureza da vacuidade, repentinamente ele sobrepujou todo o medo e dor. Eu tenho visto pessoas morrerem muito pacificamente, com um sorriso, porque elas vêem que nascimento e morte são apenas ondas na superfície do oceano, ou apenas o espetáculo no caleidoscópio.

Assim, você vê que há muitas lições que podemos aprender com a nuvem, a água, a onda, a folha e o caleidoscópio; e com tudo o mais que há no cosmos, também. Se você olhar cuidadosamente para qualquer coisa, profundo o suficiente, você descobrirá o mistério do interser e, assim que você tenha visto isso, nunca mais estará sujeito ao medo - medo do nascimento, ou da morte. Nascimento e morte são apenas idéias que temos em nossas mentes, e estas idéias não podem ser aplicadas à realidade. É exatamente o que ocorre com a idéia de “acima” e “abaixo”.

Nós estamos muito seguros de que quando apontamos com a mão para o alto é “acima”, e quando na direção oposta é “abaixo”. O céu é acima, o inferno é abaixo. Mas, as pessoas que, neste exato momento, estão sentadas do outro lado do planeta deverão discordar, porque a idéia de acima e abaixo não se aplica ao cosmos, exatamente como a idéia de nascimento e morte.

Então, por favor, continue a olhar para trás e você verá que você sempre esteve aqui. Vamos olhar juntos e penetrar na vida de uma folha, até nos tornarmos um com ela. Vamos penetrar e ser um com a nuvem, ou com a onda, até compreedermos a nossa própria natureza como água e ficarmos livres do nosso medo. Se olharmos bem profundamente, nós transcenderemos nascimento e morte.

Amanhã eu continuarei a existir. Mas você terá de estar muito atento para me ver. Eu serei uma flor, ou uma folha. Eu estarei nestas formas e direi “Alô!” para você. Se você estiver suficientemente atento, você vai me reconhecer; e você poderá me cumprimentar. Eu ficarei muito feliz.

domingo, dezembro 07, 2008

Eu Cheguei

"Eu cheguei" é a nossa prática em Plum Village. Quando você inspira, toma refúgio em sua inspiração, e diz "Eu cheguei". Quando você dá um passo, você toma refúgio no seu passo e diz "Eu cheguei". Isto não é uma declaração para si mesmo ou pra outra pessoa. "Eu cheguei" significa eu parei de correr. Eu cheguei no momento presente, por que somente o momento presente é vida. Quando eu inspiro e tomo refugio em minha inspiração, toco a vida profundamente. Quando dou um passo e tomo refúgio inteiramente no meu passo, também toco a vida profundamente e, desse modo, paro de correr. Parar de correr é uma prática muito importante. Corremos durante toda a nossa vida. Acreditamos que a paz, a felicidade e o sucesso estão presentes em algum lugar e em algum tempo. Não sabemos que tudo - paz, felicidade e estabilidade - deveriam ser procurados no aqui e agora. Este é o endereço da vida - a interseção do aqui e do agora.