sexta-feira, novembro 19, 2010

O Budismo é um Humanismo

O budismo é a mais forte forma de humanismo que temos. Ele nos ajuda a aprender a viver com responsabilidade, solidariedade e amor. Cada praticante budista deveria ser um protetor do meio ambiente. Temos o poder de decidir o destino de nosso planeta. Se acordamos para nossa situação, haverá uma mudança na nossa consciência coletiva. Temos que fazer algo para despertar as pessoas. Temos que ajudar o Buda a despertar as pessoas que estão vivendo em um sonho.

segunda-feira, agosto 02, 2010

A Armadilha das Noções

O Buda contou uma parábola interessante em relação às idéias e noções. Um jovem comerciante ao voltar pra casa viu que ela foi atacada e incendiada por bandidos. No que seria o lado de fora da casa destruída, havia um pequeno corpo carbonizado. Ele pensou logo que aquele corpo pertencia a seu filho. Ele não sabia que, na verdade, seu filho estava vivo e nem que, após incendiarem a casa os bandidos levaram-no junto com eles. Naquele estado de confusão o jovem comerciante acreditou que o corpo que ele estava vendo era o de seu filho. Então, ele chorou, bateu no peito e arrancou os cabelos lamentando sua perda – e assim preparou a cerimônia de cremação.

Esse homem amava muito esse filho, era a sua razão de viver. Tanto que, mesmo depois da cremação, ele não conseguia abandonar as suas cinzas nem só por um momento. Mandou fazer uma bolsa de veludo, pôs as cinzas dentro e a carregava dia e noite. Mesmo trabalhando ele não se separava delas. Mas eis que, uma noite, seu filho conseguiu fugir dos bandidos e voltou para casa reconstruída. Às duas horas da manhã ele bateu na porta muito feliz por estar de volta. O pai acordou e ainda segurando a bolsa com as cinzas perguntou: “Quem está aí?”.

“Sou eu. Seu filho!” Disse o garoto atrás da porta.

“Você, seu teimoso, não é meu filho. Ele morreu três meses atrás. Eu carrego as suas cinzas aqui comigo”.

O garotinho continuou ainda por um tempo a gritar e a bater na porta, mas seu pai continuou se recusando a deixá-lo entrar. O homem estava firmemente agarrado à idéia de que seu filho já estava morto e que esse outro menino era uma pessoa sem coração que veio somente para atormentá-lo. Finalmente, o menino desistiu e foi embora e o pai perdeu o filho para sempre.

O Buda costumava dizer que se você se deixar apanhar por uma idéia e passa a considerá-la como “a verdade”, você perderá a chance de conhecer a verdade. Mesmo se a própria verdade em pessoa vier e bater à sua porta, você se recusará a abrir a sua mente. Portanto, se você estiver comprometido com uma idéia acerca da verdade ou acerca das condiçõs necessárias para a sua felicidade, tome cuidado. O Primeiro Treinamento da Plena Consciência é justamente sobre sermos livres dos pontos de vista:

“Cientes do sofrimento causado pelo fanatismo e pela intolerância, nós estamos determinados a não sermos idólatras e a não nos apegarmos a nenhuma doutrina, teoria ou ideologia, mesmo que seja de origem budista. Os ensinamentos do budismo são um guia para nos ajudar a olhar profundamente a realidade e para desenvolver nossa compreensão e nossa solidariedade, e não uma doutrina em nome da qual devamos combater, matar ou morrer”.

Esta é uma prática que ajuda a nos libertar da tendência a sermos dogmáticos. Nosso mundo sofre já bastante por causa das atitudes dogmáticas. O primeiro treinamento da plena da consciência é importante por que nos ajuda a permanecermos pessoas livres. Liberdade é, acima de tudo, libertação de nossas próprias noções e conceitos. Ao permanecermos enredados em nossas noções e conceitos, faremos sofrer a nós mesmos e mesmo àqueles a quem amamos.

sexta-feira, julho 09, 2010

Compreensão

Para mim, compreensão é o próprio fundamento do amor. Se você não compreender as dificuldades dos outros, seu sofrimento, dor e suas aspirações profundas, você não poderá cuidar deles e fazê-los feliz. É por isso que compreensão é amor. Você tem tempo para observar e compreender? Você compreende a si mesmo? Você compreende as raízes de seu próprio sofrimento, de sua própria tristeza e dor? Você sabe lidar consigo mesmo com solidariedade? Se você nãosouber lidar consigo mesmo com solidariedade, como poderá se relacionar com os outros com compreensão e solidariedade? Este é o tipo de prática que pode promover um código de comportamento que fará o ambiente de trabalho harmonioso, feliz e cheio de paz.

Por isso, professores, policiais, assistentes sociais e todos nós que estamos frequentemente em contato com pessoas que estão sofrendo, precisamos aprender a lidar com nossas próprias frustrações e raiva. Podemos dizer: "Inspirando, eu sei que a raiva está em mim. Expirando, abraço a minha raiva com carinho. Não devo fazer meus alunos ou clientes sofrer por causa da minha raiva, mesmo se alguns deles se comportarem de maneira violenta".

domingo, junho 13, 2010

Nem Acima, Nem Abaixo

É como a noção de acima e de abaixo. Dizer que elas existem também é errado. O que é abaixo para nós é acima para alguém em outro lugar. Estamos sentados aqui e dizemos que 'acima' é acima de nossa cabeça e pensamos a direção oposta é 'abaixo'.

Pessoas praticando meditação sentada no outro lado do mundo, não concordarão com o que chamamos de 'acima' por que, para eles isso será 'abaixo'. E ele não estão sentados sobre suas cabeças. As idéias de 'acima' e de 'abaixo' sempre significam 'acima de algo' ou 'abaixo de algo' e essas idéias de 'acima' e de 'abaixo' não podem ser aplicadas à realidade do cosmos. São apenas conceitos que nos dão um ponto de referência, mas não são reais. A realidade é isenta de todas as noções e idéias.

domingo, maio 23, 2010

Nada Nasce, Nada Morre

Um cientista francês, cujo nome é Lavoisier, declarou certa vez “Rien ne crée, rien ne se perd”. “Nada se cria, nada se perde”. Mesmo que ele não tenha praticado como budista, mas como um cientista, ele chegou à mesma conclusão do Buda.
Nossa verdadeira natureza é a natureza do não nascimento e da não morte. Somente quando tocamos nossa verdadeira natureza podemos transcender o medo de não ser, o medo da aniquilação.
O Buda disse que quando as condições são suficientes, algo se manifesta e dizemos que ela passa a existir. Quando uma ou duas condições faltam e aquilo não se manifesta, então dizemos que ela não existe. De acordo com o Buda, qualificar algo como existente ou não existente é errado. Na verdade, não existe nada que totalmente exista ou totalmente inexista.
Podemos ver isso facilmente com a televisão e o rádio. Digamos que nós estejamos em uma sala sem televisão e nem rádio. Enquanto estamos ali, podemos pensar que ali não existem programas de tv e nem de rádio. Ora, mas nós sabemos que o espaço da sala está cheio de sinais, de ondas, que preenchem o ar em todos os lugares. Precisamos apenas de mais uma condição, ou seja, uma televisão ou um rádio, para que as imagens, cores e sons apareçam. Teria sido errado dizer que esses sinais não existia antes, por causa da ausência de um dos aparelhos para recebê-los e manifestá-los. Parecia que esses sinais não existiam por causa da falta de condições suficientes para que os programas se manifestassem. Assim, naquele momento, naquela sala, dizemos que eles não existem. Mas só por que não percebemos algo, não quer dizer que ele não exista. Apenas as nossas noções acerca de ser e não ser é que nos deixam confusos. São essas noções que nos fazem pensar que algo existe ou não existe. Noções de ser e não ser não podem ser aplicadas à realidade.

quinta-feira, abril 29, 2010

Encontrando Um Ente Querido Perdido

A mesma coisa acontece quando perdemos alguém que amamos. Quando as condições que os mantêm vivos não são mais suficientes, eles se retiram. Quando perdi a minha mãe, sofri muito. Quando se tem somente sete ou oito anos é difícil pensar que, um dia, iremos perder nossa mãe. Com o tempo, todos nós crescemos e perdemos as nossas mães. Se você souber praticar, quando esse dia chegar, você não sofrerá muito. Você perceberá rapidamente que ela estará sempre viva em você.
No dia em que minha mãe morreu, escrevi no meu diário “Um grande infortúnio aconteceu na minha vida!”. Sofri por mais de um ano a sua morte. Mas uma noite, nas montanhas do Vietnã, eu estava dormindo no meu eremitério e sonhei com ela. Vi-me sentado ao seu lado e tendo uma conversa maravilhosa. Ela parecia jovem, linda, com seu cabelos soltos. Foi tão agradável esse momento que foi como se ela jamais tivesse morrido. Quando acordei, era umas duas horas da manhã e eu estava com uma forte sensação de que nunca havia perdido a minha mãe. A impressão de que ela ainda estava comigo era muito clara. Nesse dia eu compreendi que a idéia de perder a mãe era apenas uma idéia. E era óbvio nesse momento que ela sempre estaria presente em mim.
Abri a porta e saí. Toda a colina estava banhada pela luz do luar. Era uma colina coberta por plantações de chá e minha cabana estava atrás do templo, a meio caminho entre o topo e a base. Ao caminhar lentamente sob o luar e por entre as fileiras de chá, percebi que minha mãe estava ali comigo. Era ela a luz do luar me acariciando, como tantas vezes tinha feito antes, doce e gentil...Foi maravilhoso! A cada vez que os meus pés tocavam a terra, eu sabia que ela estava ali, comigo. Compreendi que esse corpo não era somente meu, mas uma continuação viva não só da mãe, mas do meu pai, dos meus avós e bisavós. De todos os meus ancestrais. Estes pés, que antes eu via como “meus”, eram, na verdade, “nossos”. Juntos, eu e minha mãe estávamos deixando pegadas no chão molhado.
Daquele momento em diante, a minha idéia de que eu havia perdido a minha mãe, desapareceu. Tudo o que tenho que fazer é olhar a palma da minha mão, sentir a brisa na face ou a terra sob meus pés para me lembrar que ela estará sempre aqui, comigo, disponível a qualquer momento.
Quando você perde um ente querido, você sofre, mas se observar profundamente, terá a chance de perceber que a natureza dessa pessoa não é nem nascer e nem morrer. O que existe é apenas a manifestação e a cessação da manifestação a qual prepara uma nova manifestação. Você precisa estar muito atento para reconhecer a continuação de alguém. Mas com prática e um pouco de esforço, você conseguirá.
Assim, tomando a mão de alguém que conhece a prática, faça uma meditação caminhando juntos. Preste atenção às folhas, flores e pássaros e às gotas de orvalho. Se você parar e observar, será capaz de reconhecer a pessoa amada muitas vezes e de diferentes formas. E assim, você sentirá a alegria de viver.

domingo, março 28, 2010

Pensar Correto

Quando produzimos um pensamento, temos de nos assegurar que seja bom, um pensamento correto, por que, se assim for, ele nos trará saúde física e mental e ajudará o mundo a se curar. Nossa prática é tentar viver de um modo tal que, todo dia, só produzamos bons pensamentos, pensamentos em direção ao pensar correto. Temos que nos treinar para que seja assim. Um mau pensamento pode destruir a saúde física e moral de nós todos e do mundo inteiro. Dessa maneira, temos que ser cuidadosos para produzir apenas bons pensamentos.

O pensar correto é recomendado a todos nós por Buda. Trata-se da ação em forma de pensamento. Cada vez que produzimos um pensamento, esse pensamento carregará nossa assinatura. Você não poderá dizer “Não, eu não produzi esse pensamento”. Isso chama-se karma. Karma-causa, karma-fruto. Se existe uma causa, haverá um fruto – e esse fruto pode ser amargo ou doce, vai depender da natureza do karma.

segunda-feira, março 08, 2010

Tornando-se Nada

Nosso maior medo é que ao morrermos nos tornaremos nada. Muitos acreditam que toda a nossa existência é somente a vida que começa no momento em que nascemos e que termina no momento da nossa morte. Acreditamos que nascemos a partir do nada e que quando morrermos nos tornaremos nada. E por isso ficamos cheios medo da aniquilação.

O Buda tem uma compreensão muito diferente de nossa existência. Para ele, nascimento e morte são noções, não são a realidade. O fato de que pensemos que são realidade produz uma ilusão muito poderosa que faz com que soframos. O Buda ensinou que não existe nem nascimento e nem morte, nem ir e nem vir, nem o mesmo e nem diferente, nem um eu permanente e nem aniquilação. Somos nós que pensamos assim. Ao compreendermos que não podemos ser destruídos, a gente se liberta desse medo e isso é um grande alívio. Passamos a aproveitar melhor a vida e a apreciá-la de uma nova maneira.

terça-feira, março 02, 2010

Nem Nascimento, Nem Morte

No meu eremitério, na França, há uma planta chamada marmeleiro japonês. Ele floresce normalmente na primavera, mas um inverno desses foi mais quente que o normal e os botões das flores apareceram mais cedo. Uma noite, entretanto, uma frente fria passou e as folhas e as flores ficaram congelados. No outro dia, ao fazer meditação caminhando, notei que todos os botões tinham morrido e pensei “No ano Novo, não teremos flores suficientes para o altar do Buda”.
Algumas semanas depois, o tempo esquentou de novo e, ao caminhar pelo meu jardim, vi novos botões em flor do marmeleiro, manifestando uma nova geração de flores. Então perguntei a elas “Vocês são as mesmas flores que morreram congeladas ou são outra diferentes?”. E elas me responderam “Thay, não somos nem as mesmas e nem outras diferentes. Quando há condições suficientes, nós nos manifestamos, e quando não, continuamos escondidas. Simples assim!”.
Isto é o que o Buda ensinou. Quando as condições são suficientes, as coisas se manifestam. Quando elas não são suficientes, as coisas se retiram. Elas esperarão o momento certo para se manifestarem de novo.
Antes de dar a luz a mim, minha mãe esteve grávida de outro bebê. Ela sofreu um aborto e aquela pessoa não nasceu. Quando eu era mais jovem, eu costumava me perguntar: aquele era meu irmão ou era eu mesmo? Quem estava tentando se manifestar daquela vez? Se ela perdeu o bebê, significa que as condições não eram suficientes para que ele se manifestasse e então ele se retirou, para esperar melhores condições. “É melhor me retirar. Em breve voltarei, minha querida”. Então temos que respeitar sua vontade. Quando a gente olha o mundo dessa maneira, sofremos menos. Era o meu irmão que a minha mãe perdeu?
Ou talvez era eu que estava para aparecer, mas decidi me retirar - “Ainda não é a minha hora”.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Inclusividade

Cada um de nós tem de se perguntar, qual é o tamanho do meu coração? Como eu posso fazer com que meu coração cresça e se torne cada vez maior todos os dias? A prática da inclusividade é baseada na prática da compreensão, solidariedade e amor. Se você praticar olhando profundamente para entender o sofrimento, o néctar da solidariedade irá emergir naturalmente do seu coração. Maitri, bondade amorosa, e Karuna, solidariedade, poderão crescer indefinidamente. Assim, graças á prática do olhar profundo e da compreensão, sua bondade amorosa e sua solidariedade crescerão dia a dia. E com compreensão suficiente e amor você poderá aceitar e abraçar tudo e todos.

Com muita frequência, em um conflito, achamo que se aqueles no outro lado, aqueles que se opõem a nós ou acreditam em coisas diferentes, parassem de existir, teríamos paz e felicidade. Desse modo podemos estar motivados pelo desejo de aniquilação do outro, de sua destruição ou da remoção de certas pessoas da nossa comunidade ou da sociedade. Mas, observando profundamente, veremos que assim como nós sofremos eles também sofreram. Se realmente quisermos viver em paz, segurança, a salvo, temos que criar uma oportunidade para os que estão no outro lado viver assim também.

Se soubermos como permitir que o outro lado entre no nosso coração, se tivermos essa intenção, não somente sofreremos menos mas aumentaremos as nossas chances de paz e segurança. Se estivermos motivados pela prática da inclusividade, torna-se muito simples se perguntar, "Qual a melhor maneira de ajudar vocês para que possam gozar de segurança? Por favor, diga-nos". Expressamos nossa preocupação com a segurança deles , com sua necessidade de viver em paz, reconstruir seu país, fortalecer sua sociedade. Quando formos capazes de abordar a situação de conflito dessa maneira, isso poderá nos ajudar bastante a transformar a situação. A base para esta transformação, a primeira coisa que deve acontecer, é mudar por dentro seu próprio coração. Você abre seu coração para incluir o outro lado; você quer dar a eles a chance de viver em paz, do mesmo modo como você deseja a paz para si mesmo.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Blog

Gostaria de me desculpar com os leitores do Blog. Estou há alguns meses em retiro em Plum Village e não estou tendo condições de atualizá-lo semanalmente ou mesmo regularmente.
A partir de março o Blog retornará com a sua dinâmica normal e com novas traduções de textos e palestras do Ven. Thich Nhat Hanh.

Abraços a tod@s!!!