sexta-feira, novembro 28, 2008

Budismo Engajado

O termo “budismo engajado” foi criado para restaurar o verdadeiro significado do budismo. Budismo engajado é simplesmente o budismo aplicado em nosso dia-a-dia. Se não é engajado, não pode ser chamado budismo. As práticas budistas não devem ser feitas somente nos monastérios, centros de meditação e institutos budistas, mas em qualquer situação na qual nos encontremos. Budismo engajado significa atividades do dia-a-dia combinadas com a prática da plena consciência.

Existe uma real necessidade de levarmos o budismo para a sociedade, especialmente quando você se encontra em uma situação de guerra ou injustiça social. Durante a guerra do vietnã se tornou muito claro que deveríamos praticar o budismo engajado, para que a solidariedade e a compreensão pudessem se tornar parte da vida do povo. Quando sua vila é bombardeada e destruída e quando seus vizinhos se tornam refugiados, você não pode simplesmente continuar a praticar a meditação sentada na sala de meditação. Mesmo que o templo não tenha sido bombardeado e a sua sala de meditação esteja intacta, ainda assim você poderá ouvir os gritos das crianças feridase poderá ver a dor dos adultos que perderam suas casas. Como é que você pode continuar a se sentar lá de manhã cedo, à tarde e à noite? É por isso que você tem que encontrar um jeito de levar a sua prática para a vida cotidiana e sair para ajudar as outras pessoas. Você pode fazer tudo o que você puder para aliviar o sofrimento. Mesmo que você saiba que se abandonar a prática de sentar-se e caminhar com plena consciência, você não será capaz de retomá-la por um longo tempo.

É importante que ao mesmo tempo em que nos tornemos voluntários ou tomemos parte no ativismo ambiental, encontremos uma maneira de continuar nossa prática de respirar, caminhar e falar com plena consciência. Não nos deixemos cair na raiva ou no desespero ao refletir sobre o estado atual do mundo, ou quando confrontados com aqueles que se engajam no desperdício dos recursos naturais. Pelo contrário, podemos fazer de nossa vida um exemplo de vida simples. A escuta profunda e a fala amorosa podem nos ajudar a apoiar a transformação dos indivíduos e da sociedade e nutrir o despertar coletivo que irá salvar nosso planeta e nossa civilização.

Se quisermos ter sucesso na prática da fala amorosa, precisamos saber como lidar com nossas emoções quando elas nos chegam à superfície. Toda vez que a raiva, a frustração ou a tristeza sugirem, temos que ter a capacidade de lidar com elas. Isso não significa lutar com elas, suprimí-las ou expulsá-las. Nossa raiva e nosso desapontamento são parte de nós, não devemos fazer isso. Quando oprimimos a nós mesmos, cometemos um ato de violência contra nós mesmos. Se soubermos como retornar à respiração consciente, criaremos um ambiente de verdadeira presença e geraremos a energia do contato. Com essa energia reconheceremos e abraçaremos nossa tristeza, raiva ou desapontamento com bondade e amor.

Trabalho social e de ajuda realizados sem a prática da plena consciência não podem ser descritos como budismo engajado. Todos os que fazem esse trabalho correm o risco de se perder no desespero, na raiva ou na frustração. Se você estiver realmente praticando o budismo engajado, então você saberá preservar-se a si próprio como praticante, ao mesmo tempo em que faz coisas para ajudar as pessoas no mundo. Budismo verdadeiramente engajado é, antes de tudo, a prática da plena consciência em tudo o que fizermos.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Transformando Nosso Presente e Nosso Passado

Todos nós cometemos erros no passado. Mas esses erros podem ser apagados. A gente pode até pensar que pelo fato do passado já ter ocorrido, não podemos mais voltar e corrigir os nossos erros. Mas o passado criou o presente, por isso, ao praticarmos a plena consciência no presente, estaremos naturalmente em contato com ele. Ao transformarmos o presente, transformamos ao mesmo tempo o passado. Nossos ancestrais, pais, irmãos e irmãs estão intimamente ligados a nós – nosso sofrimento e felicidade estão intimamente ligados ao deles, assim como o sofrimento e a felicidade deles estão intimamente ligados ao nosso. Se pudermos transformar a nós mesmos, estaremos transformando-os também. Nossa própria emancipação, paz e alegria significam a emancipação, paz e alegria dos nossos pais e ancestrais. Centrarmo-nos no presente para transformá-lo é a única forma de trazer paz, alegria e emancipação para aqueles que amamos e curar as feridas que provocamos no passado.

segunda-feira, novembro 03, 2008

A Mente Desperta Tem Que Ser Engajada

Quando eu vivia no Vietnã, muitas das nossas aldeias foram bombardeadas. Em conjunto com meus irmãos e irmãs monásticos, tive que decidir o que fazer. Deveríamos continuar nossas práticas nos mosteiros ou deveríamos sair dos templos de meditação para ajudar as pessoas que sofriam com as bombas? Após uma reflexão cuidadosa, resolvemos fazer as duas coisas: sair para ajudar as pessoas e fazer isso com a plena consciência. Chamamos essa prática de budismo engajado. A plena consciência tem que ser engajada. Se existe a visão, tem que existir a ação. Do contrário, de que valeria a visão?

Devemos estar alertas para os verdadeiros problemas do mundo. Assim, com plena consciência, saberemos o que fazer e o que não fazer para ajudar. Se nos mantivermos cientes da nossa respiração e continuarmos a praticar o sorriso, mesmo em situações difíceis, muitas pessoas, animais e plantas irão se beneficiar da nossa forma de agir. Você massageia a Mãe Terra cada vez que o seu pé a toca? você costuma plantar sementes de alegria e paz? Eu tento fazer exatamente isso a cada passo, e sei que a Mãe Terra aprecia imensamente. A paz a cada passo. Vamos continuar nossa jornada?