terça-feira, dezembro 23, 2008

Vacuidade

Quando eu era uma criança, costumava brincar com um caleidoscópio. Eu pegava um tubo com alguns cacos de vidro, girava um pouco, e tinha muitas visões maravilhosas. Cada vez que fazia um pequeno movimento com meus dedos, uma imagem desaparecia e outra surgia. Eu não chorava de modo algum quando o primeiro espetáculo desaparecia porque eu sabia que nada havia se perdido. Uma outra bela imagem sempre se seguia. Se você for a onda e se tornar um com a água olhando para o mundo com os olhos da água, então você não sentirá medo de subir e descer, subir e descer... Mas, por favor, não se satisfaça com mera especulação ou apenas com o que estou dizendo. Você mesmo precisa entrar, provar, ser um com todas as coisas. Isto pode ser feito através da meditação, não apenas na sala de meditação, mas ao longo de sua vida diária. Enquanto você cozinha uma refeição, arruma a casa, enquanto sai para caminhar, você pode olhar para as coisas e tentar vê-las na natureza da vacuidade. Vacuidade é uma palavra otimista; não é pessimista, absolutamente. Quando Avalokita, em sua profunda meditação sobre a Perfeita Compreensão, foi capaz de ver a natureza da vacuidade, repentinamente ele sobrepujou todo o medo e dor. Eu tenho visto pessoas morrerem muito pacificamente, com um sorriso, porque elas vêem que nascimento e morte são apenas ondas na superfície do oceano, ou apenas o espetáculo no caleidoscópio.

Assim, você vê que há muitas lições que podemos aprender com a nuvem, a água, a onda, a folha e o caleidoscópio; e com tudo o mais que há no cosmos, também. Se você olhar cuidadosamente para qualquer coisa, profundo o suficiente, você descobrirá o mistério do interser e, assim que você tenha visto isso, nunca mais estará sujeito ao medo - medo do nascimento, ou da morte. Nascimento e morte são apenas idéias que temos em nossas mentes, e estas idéias não podem ser aplicadas à realidade. É exatamente o que ocorre com a idéia de “acima” e “abaixo”.

Nós estamos muito seguros de que quando apontamos com a mão para o alto é “acima”, e quando na direção oposta é “abaixo”. O céu é acima, o inferno é abaixo. Mas, as pessoas que, neste exato momento, estão sentadas do outro lado do planeta deverão discordar, porque a idéia de acima e abaixo não se aplica ao cosmos, exatamente como a idéia de nascimento e morte.

Então, por favor, continue a olhar para trás e você verá que você sempre esteve aqui. Vamos olhar juntos e penetrar na vida de uma folha, até nos tornarmos um com ela. Vamos penetrar e ser um com a nuvem, ou com a onda, até compreedermos a nossa própria natureza como água e ficarmos livres do nosso medo. Se olharmos bem profundamente, nós transcenderemos nascimento e morte.

Amanhã eu continuarei a existir. Mas você terá de estar muito atento para me ver. Eu serei uma flor, ou uma folha. Eu estarei nestas formas e direi “Alô!” para você. Se você estiver suficientemente atento, você vai me reconhecer; e você poderá me cumprimentar. Eu ficarei muito feliz.

1 comentários:

Anônimo disse...

Cheguei ao seu blog por acaso, pesquisando sobre o budismo, filosofia que muito me atrai...
sempre quiz despertar a consciencia e conseguir o vazio iluminador.... porém tenho uma mente teimosa e dificil de controlar....
gostaria de agradecer por este espaço maravilhoso que voçês tem...
gostei muito... sabio e profundo
aproveito esta passagem de ano, para desejar a todos os buscadores da verdade, muita força interna e consciencia divina neste ano que se inicia...
que Deus abençoe a todos..
feliz ano novo
arnaldo