quinta-feira, julho 10, 2008

Nota do Tradutor

(Este texto é do responsável pelo Blog e não do Thây)


Como alguns devem ter notado, mudei todas as ocorrências da palavra "Compaixão" por "Solidariedade", na nota abaixo faço a minha justificativa.

Nota do Tradutor


Já li diversas vezes em textos do Thây que a tradução de karuna por "compaixão" não era uma boa tradução. No livro "Ensinamentos Sobre o Amor" ele nos diz explicitamente:

"O segundo do aspecto do amor verdadeiro é karuna, a intenção e a capacidade de aliviar e transformar o sofrimento e abrandar as tristezas. Em geral, a tradução de karuna é compaixão, mas isso não está inteiramente correto. 'Compaixão' compõe-se de com (junto com) e paixão (sofrimento). Mas não precisamos sofrer para eliminar a dor de outra pessoa. Os médicos, por exemplo, podem aliviar a dor de seus pacientes sem que eles padeçam da mesma doença. Se sofrermos muito, poderemos ficar arrasados e incapazes de ajudar os outros".

Outros tradutores, os que são budistas pelo menos, também sentem o mesmo incômodo ao usar a palavra compaixão, principalmente devido ao fato de ela ser carregada de conotações cristãs tradicionais ligadas à piedade, etc. Além disso, a palavra compaixão carrega um sentido altamente dualista que fere a unidade budista original, isolando o sujeito (aquele que age com compaixão) e o objeto (aquele que interage na ação), fazendo-nos esquecer de que ambos intersão, segundo verbo cunhado por Thây (interbeing), que ambos são interdependentes.

Por outro lado, a palavra solidariedade se encaixa perfeitamente na definição budista tradicional de karuna. Solidariedade vem da palavra solidário que por sua vez vem da palavra latina solidu (sólido). É interessante notar que nunca vi ninguém se lembrar que a palavra solidariedade tem a mesma raiz de solidez – e me parece óbvio que a solidariedade só pode ser praticada se houver solidez. Uma palavra que se baseia em solidez e compartilha, inclusive, a mesma raiz, em minha opinião, só pode ser a palavra mais adequada para traduzir a palavra karuna. E com a vantagem de não ser trazer em si sentido religioso algum (sei que isso pode ser também uma desvantagem, para alguns).

Em todos os seus textos e palestras, Thây sempre enfatiza o fato de que para uma ação ser realmente “compassiva”, ou seja, ser impregnada por karuna, é preciso solidez e estabilidade – mesmo na curta citação acima isso é claro. Solidez é necessária para que ocorra a transformação do sofrimento, a libertação, a felicidade. Não podemos simplesmente nos lançar a ajudar os outros, temos que cultivar a estabilidade e a solidez em nós mesmos para não sermos arrasados pela dor e sofrimento dos outros, para sermos capazes de ajudá-los a transformar seu sofrimento tal como fizemos nós mesmos.

No texto Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, o filósofo André Comte-Sponville nos diz:

“... ser solidário é pertencer a um conjunto in solido, como se dizia em latim, isto é, “para o todo”. Assim devedores são ditos solidários, na linguagem jurídica, se cada um pode e deve responder pela totalidade da soma que tomou emprestada coletivamente. Isso tem suas relações com a solidez, de que a palavra provém: um corpo sólido é um corpo em que todas as partes se sustentam”.

Talvez essa não seja a melhor solução, talvez fosse melhor recorrer ao um neologismo. Mas acho que é melhor usar expressões consagradas pelo uso do que criar novas palavras que podem criar mais confusão e dar um ar demasiado intelectual aos textos que, essencialmente, têm finalidade prática e não especulativa.

Por favor, se você não concordar com a minha visão pessoal, basta substituir mentalmente a palavra solidariedade por compaixão de novo para entrar em contato com o sentido mais adequado à sua prática – pelo menos era isso que eu fazia (secretamente). Agora torno pública a minha interpretação.

quarta-feira, julho 09, 2008

Um gesto Solidário Pode Produzir Um Milagre

Um gesto, uma palavra ou pensamento solidário pode reduzir o sofrimento da outra pessoa e proporciona-lhe alegria. Uma palavra consegue dar conforto e confiança, eliminar dúvidas, ajudar alguém a evitar um erro, apaziguar um conflito ou abrir a porta da libertação. Um gesto pode salvar uma vida ou ajudar um indivíduo a aproveitar uma oportunidade rara. Um pensamento tem a capacidade de fazer o mesmo, pois os pensamentos sempre leva às palavras e às ações. Se trazemos a solidariedade no coração, todo pensamento, palavra ou gesto é capaz de produzir um milagre